sábado, 26 de fevereiro de 2011

Carlos Drummond de Andrade!

Amar

Que pode uma criatura senão entre criaturas, amar?
Amar e esquecer?
Amar e malamar
Amar, desamar e amar
Sempre, e até de olhos vidrados, amar?
Que pode, pergunto, o ser amoroso,
Sozinho, em rotação universal,
se não rodar também, e amar?
Amar o que o mar trás a praia,
O que ele sepulta, e o que, na brisa marinha
é sal, ou precisão de amor, ou simples ânsia?
Amar solenemente as palmas do deserto,
o que é entrega ou adoração expectante,
e amor inóspito, o áspero
Um vaso sem flor, um chão de ferro, e o peito inerte,
e a rua vista em sonho, e uma ave de rapina.
Este é o nosso destino:
amor sem conta, distribuído pelas coisas
pérfidas ou nulas,
doação ilimitada a uma completa ingratidão,
e na concha vazia do amor a procura medrosa,
paciente, de mais e mais amor
Amar a nossa mesma falta de amor,
e na secura nossa, amar a água implícita,
e o beijo tácito e a sede infinita.


Carlos Drummond de Andrade

quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

A pena!

A pena
Composição: tony quintino

Você me vê de formas que eu nunca sonhei ser
Porque talvez você não possa nunca compreender
E essa imagem distorcida me acompanha
Me pergunto qual o grande mal que eu fiz?
Desisto então de te provar, o amor me estranha
Será que sou tão diferente assim?

Outra flor
Sem cor ou sabor
Te afasto das memórias
Pra longe de mim

Descanso, me lanço ao mar
Desenho canções no ar
Me lembro que já fui feliz aqui
Vou me reencontrar


Dizer tudo o que eu sinto só te torna irreal
Perder o tempo e o rumo em passos tortos, fatal
Apago os teus vestígios dentro dos poemas
Me pergunto quando se perdeu de mim?
Quis voar, ter céu e mar, esse é o problema
Sou refulgente, sol nascente, enfim

tq