terça-feira, 11 de dezembro de 2012

Bertold Brecht!

Se os tubarões fossem homens

Se os tubarões fossem homens, eles fariam construir resistentes caixas do mar, para os peixes pequenos com todos os tipos de alimentos dentro, tanto vegetais, quanto animais.
Eles cuidariam para que as caixas tivessem água sempre renovada e adotariam todas as providências sanitárias, cabíveis, se por exemplo, um peixinho ferisse a barbatana, imediatamente ele faria uma atadura a fim que não morressem antes do tempo.
Para que os peixinhos não ficassem tristonhos, eles dariam cá e lá uma festa aquática, pois os peixes alegres tem gosto melhor que os tristonhos.

Naturalmente também haveria escolas nas grandes caixas, nessas aulas os peixinhos aprenderiam como nadar para a guela dos tubarões. Eles aprenderiam, por exemplo, a usar a geografia, a fim de encontrar os grandes tubarões, deitados preguiçosamente por aí. A aula principal seria naturalmente a formação moral dos peixinhos.
Eles seriam ensinados de que o ato mais grandioso e mais belo é o sacrifício alegre de um peixinho, e que todos eles deveriam acreditar nos tubarões, sobretudo quando esses dizem que velam pelo belo futuro dos peixinhos.

Se encucaria nos peixinhos que esse futuro só estaria garantido se aprendessem a obediência. Antes de tudo os peixinhos deveriam guardar-se antes de qualquer inclinação baixa, materialista, egoísta e marxista e denunciaria imediatamente aos tubarões se qualquer deles manifestasse essas inclinações.

Se os tubarões fossem homens, eles naturalmente fariam guerra entre si a fim de conquistar caixas de peixes e peixinhos estrangeiros. As guerras seriam conduzidas pelos seus próprios peixinhos. Eles ensinariam os peixinhos que entre eles e os peixinhos de outros tubarões existem gigantescas diferenças, eles anunciariam que os peixinhos são reconhecidamente mudos e calam nas mais diferentes línguas, sendo assim impossível que entendam um ao outro. Cada peixinho que na guerra matasse alguns peixinhos inimigos da outra língua silenciosos, seria condecorado com uma pequena ordem das algas e receberia o título de herói.

Se os tubarões fossem homens, haveria entre eles naturalmente também uma arte, haveria belos quadros, nos quais os dentes dos tubarões seriam pintados em vistosas cores e suas guelas seriam representadas como inocentes parques de recreio, nos quais se poderia brincar magnificamente. Os teatros do fundo do mar mostrariam como os valorosos peixinhos nadam entusiasmados para as guelas dos tubarões.
A música seria tão bela, tão bela, que os peixinhos sob seus acordes, a orquestra na frente, entrariam em massa para as guelas dos tubarões, sonhadores e possuídos pelos mais agradáveis pensamentos.

Também haveria uma religião ali. Se os tubarões fossem homens, ela ensinaria, essa religião, que só na barriga dos tubarões é que começaria verdadeiramente a vida.

Ademais, se os tubarões fossem homens, também acabaria a igualdade que hoje existe entre os peixinhos, alguns deles obteriam cargos e seriam postos acima dos outros.
Os que fossem um pouquinho maiores, poderiam inclusive comer os menores, isso só seria agradável aos tubarões, pois eles mesmos obteriam assim mais constantemente maiores bocados para devorar e os peixinhos maiores que deteriam os cargos valeriam pela ordem entre os peixinhos para que estes chegassem a ser, professores, oficiais, engenheiro da construção de caixas e assim por diante.

Curto e grosso, só então haveria civilização no mar, se os tubarões fossem homens.


Bertold Brecht

segunda-feira, 19 de novembro de 2012

A história de Waldynelson!

Um belo dia, Waldynelson foi à loja de calçados comprar um sapato. Estava decidido: o sapato tinha que ser preto, de costura aparente e sem cadarços.
Chegando à loja, o sapato tão esperado havia acabado. Nem no estoque tinha! No entanto o vendedor ofereceu um sapato verde, um pouco fosco e com cadarços.
Waldynelson levou o sapato verde por falta de opção.
Pra sua infelicidade, o sapato verde durou 4 longos anos! Foram vezes de muita vergonha e de bolha no pé. Resumindo, um total incômodo!
Passado os 4 anos, Waldynelson voltou à loja para comprar um novo sapato. Sim, teria que ser preto, de costura aparente e sem cadarços.
O vendedor voltou com a notícia que o último modelo do sapato preto, de costura aparente e sem cadarços acabara de ser vendido. Mas sorridente, ofereceu um roxo com bolinhas brancas, de veludo e com cadarço.
Waldynelson levou o sapato roxo!




tq

quarta-feira, 17 de outubro de 2012

Teatro!

Teatro
Composição: tony quintino

Já não cabe em mim
Você pode me perdoar?
Não há razão de ser
E nem lugar

Já não sonho mais
O amor pode me libertar?
Vou só me recompor
E esperar

É estranho te dizer 
Assim não faz doer
Nem fere o coração

Fiz do não então talvez
Nem fui me desculpar
Falta saber o que você dirá

É vago e falso o amor que me condena a sentir
Posso ser bom ator, sei chorar e sei sorrir
Afago o meu cansaço, em outros braços te esqueci
Vou te contar amor, só queria te ferir
E é de restos, versos, gestos incompletos
Que te vejo prosseguir

tq


segunda-feira, 24 de setembro de 2012

Pálido!

Pálido
Composição: tony quintino

Tristes, lentos os dias sem te ver
Cabe um verso pra não me esquecer
Sábio, o amor me faz assim
Tanto que eu não sei de mim

Tento um sonho pra te encontrar
Me sinto como um náufrago em seu mar
Longe fui e me perdi
Sabe, o amor me faz assim

E onde quer que eu vá
Insisto em procurar
A felicidade que invade
E a beleza desses fins de tarde

Finjo nesse quarto cor de giz
Nada disso já me faz feliz
Cálido meu coração
Não se esquece e sofre em vão

Calo e até deixo de sonhar
Vagos pensamentos pelo ar
Pálido meu coração
Não se esquece e sofre em vão

E onde quer que eu vá
Desisto de buscar
A felicidade que invade
E a beleza desses fins de tarde

Vasto e casto amor
Dediquei sem perceber
Indulgente, me esqueci
Nada fez por merecer

E assim me afogo em dor
Vem a noite e sinto frio
É o frio da solidão
E me vejo aos pedaços pelo chão

tq

sábado, 11 de agosto de 2012

Paulo Leminski!

Razão de ser

Escrevo. E pronto.
Escrevo porque preciso,
preciso porque estou tonto.
Ninguém tem nada com isso.
Escrevo porque amanhece,
E as estrelas lá no céu
Lembram letras no papel,
Quando o poema me anoitece.
A aranha tece teias.
O peixe beija e morde o que vê.
Eu escrevo apenas.
Tem que ter por quê?

Paulo Leminski

quarta-feira, 25 de julho de 2012

Quarta-feira de cinzas!

Quarta-feira de cinzas
Composição: tony quintino

Um vício que afaga a alma
O amor que respira acalma
Alguém cansado de esperar

Me encontro num labirinto
Sem noites, sem dias
Minhas mãos não podem te tocar

Gestos na escuridão
Não acho é nem posso ver
Caminhos que me levam a lugar nenhum

Sentido não há nessa busca de um novo lar
Onde eu possa repousar meu amor
Do céu cairá a chuva mansa pra me distrair
Então finjo ter a paz que um dia já me fez feliz

tq

sexta-feira, 6 de julho de 2012

Desencontros!

Desencontros
Composição: tony quintino

Palavras duras que invadem meu dia te ouvi dizer
Sigo juntando pedaços caídos que ninguém vê
Só posso esperar
O encanto tocar alguém
Só posso esperar

Dos olhos corre saudade por não caber tanto em mim
A dor que explode por dentro achou jeito de sair
Só posso jurar
E o canto vai mais além
Só posso esperar

Sabes tão bem de mim
Que me tens assim
Só encontro em teus braços lugar

Face do meu sonhar
Sê meu ar, meu par
Sim, te espero me ouvindo chegar

tq

segunda-feira, 25 de junho de 2012

Florbela Espanca!

Amar

Eu quero amar, amar perdidamente!
Amar só por amar: Aqui… além…
Mais Este e Aquele, o Outro e toda a gente
Amar! Amar! E não amar ninguém!

Recordar? Esquecer? Indiferente!
Prender ou desprender? É mal? É bem?
Quem disser que se pode amar alguém
Durante a vida inteira é porque mente!

Há uma primavera em cada vida:
É preciso cantá-la assim florida,
pois se Deus nos deu voz, foi pra cantar!

E se um dia hei de ser pó, cinza e nada
Que seja a minha noite uma alvorada,
Que me saiba perder… pra me encontrar...

Florbela Espanca

segunda-feira, 4 de junho de 2012

O sol que secou!

Antes de qualquer coisa, quis fugir do "apagar". Imaginei que seria clichê demais falar que o sol apagou e coisa e tal, por isso escolhi a palavra secar. E porque secar?
Na minha cabeça, algo que se apaga ainda está lá, sumiu mas está lá, ensaiando uma possível volta, talvez. Agora algo que seca, nunca mais volta a ser o que era, como era.
Dadas as devidas explicações, esse é o título da minha nova canção - O sol que secou. Sim, terminei-a agora mesmo, às 22h do quarto dia do mês de junho.
Hoje aqui em Curitiba só choveu. E muito! Acho que a chuva me motivou a terminar a letra dessa canção que já vinha cantarolando a dias. Falo do vazio, da tristeza, do cansaço. Coisas recorrentes que as marés sempre me trazem novamente.

O sol que secou
Composição: tony quintino

O que pode ser
Que afaga, abraça, arrasta e toma por seu?
O que cai do céu
Que inunda, afoga e salva? Quem vai me dizer?

E mais um verão se desfez
Já vejo o vazio que vem
É tempo de folhas caídas no chão

O que você tem
Que prende, envolve e sagra? Quem dera saber
O que ninguém viu
Que fere a pele e amarga? Que me faz arder?

E mais um verão se desfez
Já vejo o vazio que vem
É tempo de folhas caídas no chão

Vi passar por mim
O mar se abriu e o tempo parou
Antes mesmo o fim
O céu ruiu ou o sol que secou?

Nem se eu quisesse ou pudesse falar
Nada seria capaz de explicar
O amor
Noite de chuva encontrou lugar
Chuva e poesia, meu sétimo andar
Sem cor


tq

terça-feira, 3 de abril de 2012

Outro lado!

Outro lado
Composição: tony quintino

Por quais segredos você se esconde de mim?
Ah, eu queria saber
Um caminho pra te descobrir

Me sinto preso, nego os rumores que ouvi
Sei que é preciso saber
Um caminho pra te descobrir

Mas dessa vez rumores são fatos reais
Mais uma vez me perco antes de chegar
E vejo o amor do outro lado da rua
Passando depressa demais

Disfarço e finjo que está tudo bem
Ao meu redor verdades pelo chão
Que guardo comigo
Consigo ao menos começar do fim?
E considerar pra dizer que sim
E te proteger do medo que sente

tq

domingo, 25 de março de 2012

Fernando Pessoa!

Todas as cartas de amor

Todas as cartas de amor são
Ridículas.
Não seriam cartas de amor se não fossem
Ridículas.

Também escrevi em meu tempo cartas de amor,
Como as outras,
Ridículas.

As cartas de amor, se há amor,
Têm de ser
Ridículas.

Mas, afinal,
Só as criaturas que nunca escreveram
Cartasde amor
É que são
Ridículas.

Quem me dera no tempo em que escrevia
Sem dar por isso
Cartas de amor
Ridículas.

A verdade é que hoje
As minhas memórias
Dessas cartas de amor
É que são
Ridículas.

(Todas as palavras esdrúxulas,
Como os sentimentos esdrúxulos,
São naturalmente
Ridículas).


Fernando Pessoa


quarta-feira, 14 de março de 2012

Santuário!

Em meio a muita saudade me veio Santuário. Aos poucos a casa amarela foi silenciando...

Santuário
Composição: tony quintino

Um confronto que aflora
Entre a sombra e a solidão
A tristeza é parceira das horas
Condiciona meu fim, ata-me as mãos

A saudade que impera
Coroando dias tão gris
Só me resta a incerteza da espera
Sinto falta de ser de novo feliz

Sei que esse é o preço
Um caminho sem cor que eu mesmo escolhi
Defronte ao avesso
Mergulhado na minha escuridão
É que calo a revolta do meu coração

A lembrança vai buscar tão longe
A razão do pranto
O vazio que me invade é tanto
Visto a noite fria
Pra tentar me livrar
Vazia
Já nem sei o quanto


tq

domingo, 4 de março de 2012

Victoria!

Esse é o título da música que fiz esta tarde! Como já disse, geralmente demoro pra fechar uma música, mas essa foi super rápida.
Sobre a canção:
Já faz um bom tempo que acompanho uma série americana chamada How I Met Your Mother! Pois bem, revendo a série e especialmente dois personagens, Ted e Victoria, acabei por escrever a música.
A letra é em primeira pessoa, como se eu fosse o personagem central, narrando como é estar apaixonado pela Victoria. Conta a história da chegada do amor e de tudo o que aconteceu no episódio!
É uma balada simples intencionalmente, pois segundo o narrador, o amor não tem que ter complicações... ele tem que ser simples...
Drumroll, please!


Victoria
Composição: tony quintino

É como sentir o ar
É como tocar o sol
Te reconhecer em mim
Ver de dentro pra fora

É como no azul saltar
É como voltar do pó
A arte de nascer o amor
Nascer de dentro pra fora

É como se aconchegar
É como um sonho bom
Sei que está impresso em mim
O invisível que aflora

É como saber dançar
É como apagar a dor
Ter histórias pra contar
De olhos, flores e horas

Esqueço de tudo e me jogo em seus braços
Meu melhor lugar
Me perco do mundo e me prendo em seus laços
Tão simples assim
É só deixar levar e fim


tq

quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

Ferreira Gullar!

Cantiga para não morrer

Quando você for se embora,
moça branca como a neve,
me leve.

Se acaso você não possa
me carregar pela mão,
menina branca de neve,
me leve no coração.

Se no coração não possa
por acaso me levar,
moça de sonho e de neve,
me leve no seu lembrar.

E se aí também não possa
por tanta coisa que leve
já viva em seu pensamento,
menina branca de neve,
me leve no esquecimento.

Ferreira Gullar