quinta-feira, 6 de dezembro de 2018

Clarice Lispector!

Trecho do romance Uma aprendizagem ou O livro dos prazeres.

Olhe para todos ao seu redor e veja o que temos feito de nós e a isso considerado vitória nossa de cada dia. Não temos amado, acima de todas as coisas. Não temos aceito o que não se entende porque não queremos passar por tolos. Temos amontoado coisas e seguranças por não nos termos um ao outro. Não temos nenhuma alegria que já não tenha sido catalogada. Temos construído catedrais, e ficado do lado de fora pois as catedrais que nós mesmos construímos, tememos que sejam armadilhas. Não nos temos entregue a nós mesmos, pois isso seria o começo de uma vida larga e nós a tememos. Temos evitado cair de joelhos diante do primeiro de nós que por amor diga: tens medo. Temos organizado associações e clubes sorridentes onde se serve com ou sem soda. Temos procurado nos salvar mas sem usar a palavra salvação para não nos envergonharmos de ser inocentes. Não temos usado a palavra amor para não termos de reconhecer sua contextura de ódio, de amor, de ciúme e de tantos outros contraditórios. Temos mantido em segredo a nossa morte para tornar nossa vida possível. Muitos de nós fazem arte por não saber como é a outra coisa. Temos disfarçado com falso amor a nossa indiferença, sabendo que nossa indiferença é angústia disfarçada. Temos disfarçado com o pequeno medo o grande medo maior e por isso nunca falamos no que realmente importa. Falar no que realmente importa é considerado uma gafe. Não temos adorado por termos a sensata mesquinhez de nos lembrarmos a tempo dos falsos deuses. Não temos sido puros e ingênuos para não rirmos de nós mesmos e para que no fim do dia possamos dizer "pelo menos não fui tolo" e assim não ficarmos perplexos antes de apagar a luz. Temos sorrido em público do que não sorriríamos quando ficássemos sozinhos. Temos chamado de fraqueza a nossa candura. Temo-nos temido um ao outro, acima de tudo. E a tudo isso consideramos a vitória nossa de cada dia.

Clarice Lispector

sexta-feira, 16 de novembro de 2018

Aquela de quem muito se fala!

Aquela de quem muito se fala

Apesar de tantos olhos de aço, Clarice conversa com a alma
A mansidão que atravessa a parede e o muro que só eu sei e posso ver
É urgente o grito seco que não fere a garganta mas desfere a sua ira no próprio coração
Este que insiste em bater e esperou sem pressa madrugada afora

Por vezes busquei resgate como se estivesse à deriva em alto mar
Embriagado pelo cheiro do tempo que não parou de escorrer pelo canto do quarto
Em meio a tantas horas tímidas vou desdobrando o silêncio e seus segredos tangíveis
Despeço-me da solidão, abro portas pra solitude

De tanto amor fiz-me cheio de mim e da vida que há muito achava-se perdida
Sigo resignificando versos, gestos, sonhos e pessoas
Assim como quem sente ou se apaixona pela primeira vez
Sem medo
Sem mágoa
Só a certeza que o incerto é bem-vindo quando se enxerga de dentro pra fora


tq

quinta-feira, 18 de outubro de 2018

Carrot cake!

Carrot cake
Composição: tony quintino

Tudo bem
Se essa nossa história é complicada assim
Se eu não sei
Se eu devo te esperar ou deixo ir
Mas tudo o que eu sei te digo agora
Você vai lembrar de mim

Toda vez que você for buscar um filme bom
Eu vou estar aí
Toda vez que você for beber algo de bom
Eu vou estar aí
Quando pensar naquele som
Eu vou estar aí
Se for dançar, um passo, frisson
Eu sei que vou estar aí

E quando se enluarar
Meu beijo vai querer sentir
Línguas pra se lembrar
Desejo vai te seduzir

Voa, canção de amor
Retrato de um final feliz
Seja o amanhã quem for
Que traga um novo grande amor pra mim


tq

terça-feira, 25 de setembro de 2018

Olha só!

Olha só
Composição: tony quintino

Olha só
Outra vez te espero sem você saber
Olha só
Outra vez te quero sem se merecer
Me diz
O que é que eu faço pra me desligar de você
Se até agora não me acostumei sem o beijo seu

Olha só
Tô aqui gritando pra ninguém ouvir
Olha só
Coração quebrado pede pra sair
Me diz
O que é que eu faço pra não mais pensar em você
Se até agora só me acostumei a ser assim tão seu

Sabe, amor, vou te falar
Que até esqueço o seu pior defeito
É só você me amar

Sabe, amor, vou te dizer
Que eu faço tudo pra te ver sorrindo
Só você não vê

Se eu paro e penso
O coração reclama por amar você

tq

domingo, 12 de agosto de 2018

Julio Cortázar!

Los amantes

¿Quién los ve andar por la ciudad
si todos están ciegos?
Ellos se toman de la mano: algo habla
entre sus dedos, lenguas dulces
lamen la húmeda palma, corren por las falanges,
y arriba está la noche llena de ojos.

Son los amantes, su isla flota a la deriva
hacia muertes de césped, hacia puertos
que se abren entre sábanas.
Todo se desordena a través de ellos,
todo encuentra su cifra escamoteada;
pero ellos ni siquiera saben
que mientras ruedan en su amarga arena
hay una pausa en la obra de la nada,
el tigre es un jardín que juega.

Amanece en los carros de basura,
empiezan a salir los ciegos,
el ministerio abre sus puertas.
Los amantes rendidos se miran y se tocan
una vez más antes de oler el día.

Ya están vestidos, ya se van por la calle.
Y es sólo entonces
cuando están muertos, cuando están vestidos,
que la ciudad los recupera hipócrita
y les impone los deberes cotidianos.

Julio Cortázar

quarta-feira, 11 de julho de 2018

Manjericão!

Manjericão
Composição: tony quintino

Eu quis te mostrar quem eu sou
Eu quis te cantar canções de amor
Eu quis escrever pra você
Eu quis renascer

Eu fiz de um encontro a razão
Eu fiz desses versos coração
Eu fiz pra dizer bem-querer
Eu fiz outra vez

Mesmo que seja assim como é
Posso me perder se você quiser

Eu sei, mais que palavras
Guardei seu olhar
Talvez seja a mesma estrada pra nós dois

Plantei felicidade
Reguei seu coração
Lá vem o tempo temperando e dando o tom
Do que virá depois

E o que virá depois?

tq

quinta-feira, 21 de junho de 2018

7x7 perdões!

7x7 perdões

Me perdoe
Me perdoe por ser desta forma, neste dia e hora que estas linhas tortas chegam até você
Me perdoe por parafrasear o Chico, mesmo gostando tão mais do Bosco, pra falar de e pra você
Me perdoe por você ser a tônica de quase tudo o que escrevo a praticamente 7 anos
Me perdoe por ser o 7 o meu número da sorte (até hoje não sei o que isso significa)
Me perdoe por manter 7 versos nas 7 estrofes que lhe escrevo
Me perdoe por não perder velhas manias

Me perdoe por ver o Léon e a Matilda e lembrar do seu choro
Me perdoe por cada filme bom visto sem que você estivesse do lado (Her é um dos melhores)
Me perdoe por não mais ouvir Prince e Procol Harum
Me perdoe por ter usado a Secret smile pra fazer a base da Bichinho
Me perdoe por tantas músicas que te fiz com raiva de mim mesmo em Porto Alegre
Me perdoe por você ter ido à Porto e andado tão pouco pelas ruas e avenidas
Me perdoe por fazer de uma esquina qualquer em São José a nossa esquina

Me perdoe por querer seu bom gosto na decoração da loja (loja transformando-se num café)
Me perdoe por não ter a mão tão boa quanto a sua pros recortes, pinturas e afins
Me perdoe por não saber de que cor eu pinto a parede da sala
Me perdoe por deduzir a sua opinião, gosto ou coisa que o valha por conta própria
Me perdoe por achar que o lugar ficaria mais bonito com um toque seu
Me perdoe por você não saber como vai ficar ou o que se é planejado
Me perdoe por esperar respostas olhando pros quadros que venho pendurando por aqui

Me perdoe por ainda falar com a sua mãe e pedir pra que ela continue olhando por você
Me perdoe por não ter o que dizer à minha mãe quando ela pergunta de você
Me perdoe por te levar um só pedaço daquele tomate recheado que eu fiz no Espaço Gourmet
Me perdoe por ter cozinhado tão pouco pra você nos tempos do extremo norte
Me perdoe por não ter voltado à feirinha do Largo pra comer aquela empanada argentina
Me perdoe por não ter comprado um pote a mais de Nutella pra nós dois
Me perdoe por querer dividir contigo uma ideia, um riso e até meu cardápio da nutricionista (ou o que ela ainda me permite comer)

Me perdoe por desejar que seja feliz a cada vez que te lembro
Me perdoe por lembrar que eu tenho e ao mesmo tempo eu não tenho o box do Friends
Me perdoe por ter só a primeira temporada do Twin Peaks pra te dar
Me perdoe por demorar tanto pra devolver os seus dvds quando eu estava longe
Me perdoe por te deixar ser feliz tão longe de mim
Me perdoe por ser egoísta agora e pensar mais em mim do que em qualquer outra pessoa
Me perdoe por às vezes me esquecer de acender a luz da razão (A conta de luz anda cara)

Me perdoe por todos os segundos e minutos que penso em você durante a minha semana
Me perdoe por ter pensado tanto em você nessas últimas semanas
Me perdoe por esses meses de hiato (não que eu não tenha tido vontade de te contatar)
Me perdoe por um ano de morada na sua cidade, agora mais minha que sua
Me perdoe por acabar vindo morar tão perto da sua antiga casa
Me perdoe por passar hoje pelo centro e não ter vontade de comer sozinho naquele restaurante
Me perdoe por acabar indo almoçar no outro restaurante mesmo me sentindo sem fome e com pressa

Me perdoe por ansiar pelo seu abraço e o cheiro que ele deixa em mim
Me perdoe por te priorizar tantas vezes, rodar exuberante mas nunca me perder de ti (o coração nunca se perde)
Me perdoe por essa escrita tão transparente e verdadeira num dia frio e sem graça
Me perdoe por não ter perguntado nenhuma vez sequer como e onde anda você
Me perdoe por falar em saudade e ser o seu nome que lateja e grita aqui por dentro
Me perdoe por mais essa citação da qual não vou me estender
Me perdoe por fim, mais uma poesia, mais um dia vazio, mais um pensamento e mais uma vez, te amo


tq

terça-feira, 29 de maio de 2018

Cantiga para uma bailarina!

Cantiga para uma bailarina
Composição: tony quintino

Ouve, sente, respira e esquece
Eis a fórmula perfeita pra você

Ouve a ti mesma
Sente por uma última vez
Respira fundo
E esquece


Abre portas e janelas
Deixa a luz e um novo amor entrar
Pro invisível aquecer seu coração

Mobiliar a casa dela
Incertezas e poeira dar lugar
Pra poesia e flores da nova estação

tq

quarta-feira, 11 de abril de 2018

Mário Quintana!

Emergência

Quem faz um poema abre uma janela
Respira, tu que estás numa cela
Abafada,
Esse ar que entra por ela.
Por isso é que poemas tem ritmo -
Para que possas profundamente respirar
Quem faz um poema salva um afogado


Mário Quintana

sexta-feira, 30 de março de 2018

Mesmo que!

Mesmo que...

E se o mundo te pegar de jeito e tirar - mesmo que por um instante - aquele teu sorriso do rosto que tanto me chamava atenção?
Logo aquele sorriso que sempre foi largo e preciso em me fazer bem...

E se o mundo te pegar de jeito e silenciar – mesmo que por algumas semanas – aquela tua conversa interminável que tanto me embalava na ligação?
Logo aquela conversa que sempre foi incansável e precisa em me fazer bem...

E se o mundo te pegar de jeito e levar – mesmo que por muitos quilômetros – aquela tua presença infatigável que tanto me despertava de antemão?
Logo aquela presença que sempre foi sentida e precisa em me fazer bem...

E se o mundo te pegar de jeito e desarmar – mesmo que por uma fração de segundo - aquela tua força invejável que tanto me arrancava da prisão?
Logo aquela força que sempre foi necessária e precisa em me fazer bem...

E se o mundo te pegar de jeito e sugar – mesmo que por meio de um conta-gotas – aquela tua alegria incurável que tanto me postergava a desilusão?
Logo aquela alegria que sempre foi invejada e precisa em me fazer bem...

Que mundo cruel afinal
E se tudo será pó, cinza e sal
Que o tempo, com sua linha espiral

Me permita esperar por você...

Mesmo que seja só pra te devolver um sorriso
Mesmo que seja só pra te devolver algumas horas perdidas
Mesmo que seja só pra te devolver a coragem, sem prévio aviso
Mesmo que seja só pra te devolver um benquerer e o cerzir de uma vida

Mesmo que seja ontem
Mesmo que seja hoje
Mesmo que seja sempre

tq

quarta-feira, 21 de fevereiro de 2018

Estação saudade!

Estação saudade

Mesmo que o maior romântico de todos os tempos escreva a décima sinfonia e seja o seu riso a inspiração
Mesmo que o Saramago dedique a você os escritos e provocações
Mesmo que a gente se perca na cidade dos sonhos em meio a tanta imaginação
Mesmo que o Quintana com seu jeito simples me entregue um bilhete com indagações
Mesmo que a família real atravesse o Atlântico a nado e chegue à colônia fugida de Napoleão
Mesmo que aquele rei não se perca e escolha entre as três filhas a que tem o maior e mais fiel coração
Mesmo que Anita cruze o sul a cavalo e de rédeas nas mãos
Mesmo que a Europa inteira esteja fervendo por causa das industriais revoluções
Mesmo que o mundo pare e dispare tiros de rosas dos seus melhores canhões
Disso tudo nada importa ou pouco importa
Já que o essencial
O muito essencial
É saber de você e ter você no tempo de um abraço
E que entre nós não existam espaços
Isso sim é o que importa de fato
Mais que deus, o diabo, sertões e regatos
E se perceberes bem o que agora relato
Nos sobram palavras e nos falta o tato


tq

domingo, 21 de janeiro de 2018

Lisboa!

Lisboa

Vi você
Vi você andando
Vi você pensando
Vi você combinando

Combinando com o cenário
Combinando com a letra da canção
Combinando comigo que sou a letra da canção

Vi você indo em direção à câmera que a eternizava
Vi você vindo em direção à mim que a assistia de longe através da câmera que a eternizava
Vi você indo e vindo nos teus sonhos
Vi você conduzindo os meus sonhos

Vi você luzindo
Vi você florindo
Vejo você por aí...



tq