domingo, 18 de dezembro de 2016

Fernando Pessoa!

Poema em linha reta

Nunca conheci quem tivesse levado porrada.
Todos os meus conhecidos têm sido campeões em tudo.

E eu, tantas vezes reles, tantas vezes porco, tantas vezes vil,
Eu tantas vezes irrespondivelmente parasita,
Indesculpavelmente sujo,
Eu, que tantas vezes não tenho tido paciência para tomar banho,
Eu, que tantas vezes tenho sido ridículo, absurdo,
Que tenho enrolado os pés publicamente nos tapetes das etiquetas,
Que tenho sido grotesco, mesquinho, submisso e arrogante,
Que tenho sofrido enxovalhos e calado,
Que quando não tenho calado, tenho sido mais ridículo ainda;
Eu, que tenho sido cômico às criadas de hotel,
Eu, que tenho sentido o piscar de olhos dos moços de fretes,
Eu, que tenho feito vergonhas financeiras, pedido emprestado sem pagar,
Eu, que, quando a hora do soco surgiu, me tenho agachado
Para fora da possibilidade do soco;
Eu, que tenho sofrido a angústia das pequenas coisas ridículas,
Eu verifico que não tenho par nisto tudo neste mundo.

Toda a gente que eu conheço e que fala comigo
Nunca teve um ato ridículo, nunca sofreu enxovalho,
Nunca foi senão príncipe — todos eles príncipes — na vida…

Quem me dera ouvir de alguém a voz humana
Que confessasse não um pecado, mas uma infâmia;
Que contasse, não uma violência, mas uma cobardia!
Não, são todos o Ideal, se os oiço e me falam.
Quem há neste largo mundo que me confesse que uma vez foi vil?
Ó príncipes, meus irmãos,

Arre, estou farto de semideuses!
Onde é que há gente no mundo?

Então sou só eu que é vil e errôneo nesta terra?

Poderão as mulheres não os terem amado,
Podem ter sido traídos — mas ridículos nunca!
E eu, que tenho sido ridículo sem ter sido traído,
Como posso eu falar com os meus superiores sem titubear?
Eu, que venho sido vil, literalmente vil,
Vil no sentido mesquinho e infame da vileza.


Fernando Pessoa

sexta-feira, 18 de novembro de 2016

A dança!

A dança
Composição: tony quintino

Nado num oceano que eu mesmo faço
E desse oceano faço o meu carnaval
Abre essa rua, avenida, que o canto começa agora
Abro o meu peito pra vida, imenso quintal

Rasgo as outras vidas e vou, novos passos
Descruzo os braços e o desamor já não sou
Do lado de dentro eu procuro a luz que vem lá de fora
Saio de vez desse escuro, findou temporal

Calmo e selvagem
Esperas de mim
Tantas miragens
Talvez não exista fim

Sou eu
Contramão
Hoje eu sonhei ser mais alma e poesia

Tão seu
Coração
Enche de cor horas antes vazias

Tem uns dias
Que eu acordo
Pensando e querendo saber

tq

Citação e inclusão de Errare humanun est de Jorge Ben.

quinta-feira, 13 de outubro de 2016

Aquela do mar!

Aquela do mar
Composição: tony quintino

Tudo é mar
Até onde eu posso ver
Vi o sol se pôr pra mim

Quem vem lá?
Só sei que entortou a flor
Veja bem, de imaginar

Você vem chegando e passa por mim
Nem sei como, quando, me ganha assim
Feche os olhos pra enxergar
Meu canto de mar

Tudo está
Bem mais que eu previ saber
Mesmo só, sonhar sem fim

Quem dirá
Que eu vivo de solidão?
Quis brincar de malmequer

Traz o seu encanto que eu deixo ficar
Tardes que eu descanso e encontro lugar
Abro os olhos pra te ouvir
Um tanto de mar


tq

segunda-feira, 5 de setembro de 2016

Olá, estranho!

Essa é desse fim de inverno (24 e 25/08)...

Olá, estranho
Composição: tony quintino

Quando foi que eu nem vi
Você mentiu pra mim?
Quanto à gente, o que eu perdi?
Você mentiu pra mim?
Você mentiu pra mim?

Quando quis enfim morar
Você viveu por mim?
Quanto às flores sem regar
Você morreu por mim?
Você morreu por mim?

Você morreu por mim?
Você viveu por mim?
Você mentiu pra mim!
Você mentiu pra mim!
Você morreu pra mim!

Tantos dias, tantas horas
Tanto nada é você
E o erro foi meu por não perceber

Sem poesia, sem o agora
Já nem quero saber
E o engano foi seu por não merecer

Adeus



tq

quinta-feira, 4 de agosto de 2016

Manoel de Barros!

Retrato do artista quando coisa

A maior riqueza do homem é a sua incompletude.
Nesse ponto sou abastado.
Palavras que me aceitam como sou - eu não aceito.
Não aguento ser apenas um sujeito que abre portas, que puxa válvulas, que olha o relógio, que compra pão às 6 da tarde, que vai lá fora, que aponta lápis, que vê a uva, etc, etc.
Perdoai.
Mas eu preciso ser outros.
Eu penso renovar o homem usando borboletas.

Manoel de Barros

terça-feira, 5 de julho de 2016

De mansinho!

Eu tenho o costume de todos os dias brincar com o meu violão. Assim, despretensiosamente, só pra não enferrujar. Sento e o que vem, aí eu já não sei. E sábado passado (02/07), dessa mesma forma, sem pensar em nada e brincando com as cordas de nylon, comecei a cantarolar uma melodia. Puxei um caderno e uma caneta que estavam por ali e saiu a primeira parte de uma nova canção. Tomei conhecimento do que eu estava a escrever já quase na metade da letra. Depois, foi só organizar as idéias e concluir o que já havia começado...

De mansinho
Composição: tony quintino

Quase nada além de olhos e sorrisos
Pra te pertencer quais versos te dedico?
Eu que pouco sei de você
Me encantaria saber

Foi meu coração bater de mansinho
Que lá dentro a te esperar fez-se um ninho
Mesmo que eu nem saiba por quê
Me encantaria saber
Eu que pouco sei de você


Se a dança pede um par
Que eu possa me perder pra te encontrar
Você vai pensar em mim?
Lembrança há de ficar
E a flor do teu cabelo qual será?

Se bem que eu já te esqueci
Se bem que eu nao sei mentir...



tq

segunda-feira, 13 de junho de 2016

Déjame!

Déjame é uma canção feita nos meses frios de 2011...

Déjame
Composição: tony quintino

Nem que faltem versos
Que eu ande incerto, sem direção
Nem no pior castigo
Nem som, nem ruído
Nem mesmo o não
Nem que eu perdesse a fala ou tivesse dias de escuridão
Tudo seria pouco, pois me encontro louco sem tuas mãos
Me acaba

Nem que saudade rubra
Me afogue ou me cubra de solidão
Nem que o amor não passe
Que a dor me abrace
Ou que eu viva em vão
Nem que a loucura impere, que dilacere meu coração
Nada será secreto
Em mim deserto
O que eu faço então?

Me arrasa
São cortinas pra não ver
Deságua
Impossível de reter
É mágoa
Fiz de tudo pra não ter
Me lavra
Quão melhor eu posso ser
Se o mesmo espinho que fere me impede voar?



tq

quarta-feira, 11 de maio de 2016

Tudo é dela!

Her ou "Ela" aqui pra nós. Não tive como passar ileso pelo vencedor de melhor roteiro original. A discussão que ele nos traz, a fotografia, as personagens... Tentei singelamente na letra de Tudo é dela dizer o quanto o filme mexeu comigo e contar, à minha maneira, a história de Theodore e Samantha.

Tudo é dela
Composição: tony quintino

Vou contar
Pode ser longe
Pode ser simples
Pode ser alguém

Qual será?
Quase um delírio
Quase um segundo
Quase amor

Deixo-me levar
Mais perfeito assim não pode ser
Tudo assim só meu
Nada é mais real
Posso até ouvir um coração
Nunca duvidei, meu bem

Foi você chegar
Que eu me encontrei
Toda forma de amor tem o seu preço, tudo bem
Sei, agora eu sei
Como esperei você
E essa carta é pra dizer
Eu enxergo o que você sente


tq


segunda-feira, 11 de abril de 2016

Martha Medeiros!

Felicidade realista

A princípio, bastaria ter saúde, dinheiro e amor, o que já é um pacote
louvável, mas nossos desejos são ainda mais complexos. Não basta que a gente esteja sem febre: queremos, além de saúde, ser magérrimos, sarados, irresistíveis.
Dinheiro? Não basta termos para pagar o aluguel, a comida e o cinema: queremos a piscina olímpica e uma temporada num spa cinco estrelas.
E quanto ao amor? Ah, o amor... não basta termos alguém com quem podemos conversar, dividir uma pizza e fazer sexo de vez em quando. Isso é pensar pequeno: queremos AMOR, todinho maiúsculo. Queremos estar visceralmente apaixonados, queremos ser surpreendidos por declarações e presentes inesperados, queremos jantar à luz de velas de segunda a domingo, queremos sexo selvagem e diário, queremos ser felizes assim e não de outro jeito.
É o que dá ver tanta televisão...
Simplesmente esquecemos de tentar ser felizes de uma forma mais realista. Ter um parceiro constante, pode ou não, ser sinônimo de felicidade. Você pode ser feliz solteiro, feliz com uns romances ocasionais, feliz com um parceiro, feliz sem nenhum. Não existe amor minúsculo, principalmente quando se trata de amor-próprio. Dinheiro é uma benção. Quem tem, precisa aproveitá-lo, gastá-lo, usufruí-lo. Não perder tempo juntando, juntando, juntando. Apenas o suficiente para se sentir seguro, mas não aprisionado. E se a gente tem pouco, é com este pouco que vai tentar segurar a onda, buscando coisas que saiam de graça, como um pouco de humor, um pouco de fé e um pouco de criatividade.
Ser feliz de uma forma realista é fazer o possível e aceitar o improvável. Fazer exercícios sem almejar passarelas, trabalhar sem almejar o estrelato, amar sem almejar o eterno. Olhe para o relógio: hora de acordar. É importante pensar-se ao extremo, buscar lá dentro o que nos mobiliza, instiga e conduz mas sem exigir-se desumanamente. A vida não é um jogo onde só quem testa seus limites é que leva o prêmio. Não sejamos vítimas ingênuas desta tal competitividade. Se a meta está alta demais, reduza-a. Se você não está de acordo com as regras, demita-se. Invente seu próprio jogo. Faça o que for necessário para ser feliz. Mas não se esqueça que a felicidade é um sentimento simples, você pode encontrá-la e deixá-la ir embora por não perceber sua simplicidade. Ela transmite paz e não sentimentos fortes, que nos atormenta e provoca inquietude no nosso coração. Isso pode ser alegria, paixão, entusiasmo, mas não felicidade.


Martha Medeiros

quinta-feira, 24 de março de 2016

Rio Beira Nova!

Canção de 2012...

Rio Beira Nova
Composição: tony quintino

Caso seja algo inominável
Caso seja o mesmo de sempre
Caso a pessoa desejável
Caso seja alma transparente

Rio sempre a me inundar
Rio pra não me perder
Rio só pra me esquecer de você

Cedo desejei te encontrar
Cedo, não pensei que fosse assim
Cedo só pra me distanciar
Cedo, outro dia, outro lugar

Rio pra te navegar
Rio e tento te esquecer
Rio leva o que eu não soube viver

É só um menino
Quem o saberá sonhar?
Quis se entregar e ancorar em outra pessoa
Amor finito
Que finda antes de chegar
Contento não há
Quem vai te escutar?


tq

domingo, 14 de fevereiro de 2016

Ventana!

Daqui do 16° andar eu senti o prédio tremer, vi árvore cair e a tempestade passar. Depois disso tudo, após normalizar água e luz, parei defronte a janela e nasceu Ventana...

Ventana!
Composição: tony quintino

É noite e a tempestade aqui passou
É Porto e algo aqui também mudou
Olhando as luzes só penso em você
Em quando vai chegar

O céu daqui só quer te ver passar
O sim que eu quis eu já te ouvi falar
Olhando os carros só penso em você
Em quando vai chegar

Eu que andei perdido por muito tempo, muito tempo
Dessa janela não posso ver você
Até me vi vencido por muito tempo, muito tempo
Tantos espaços, mas cadê você?
Só resta te esperar...
Só resta te esperar?

Nem sol, nem rio, nem chuva ou coração
Não há lugar pra mim, é tudo em vão
Olhando os prédios só penso em você
Em quando vai chegar

São luzes, carros, prédios, tanto faz
E mesmo assim ainda te quero mais
E da janela só penso em você
Se um dia vai chegar

tq

sexta-feira, 29 de janeiro de 2016

Simone de Beauvoir!

Viver sem tempos mortos

A impressão que eu tenho é de não ter envelhecido, embora eu esteja instalada na velhice. O tempo é irrealizável. Provisoriamente, o tempo parou para mim. Provisoriamente.
Mas eu não ignoro as ameaças que o futuro encerra, como também não ignoro que é meu passado que define a minha abertura para o futuro. O meu passado é referência que me projeta e que eu devo ultrapassar. Portanto, ao meu passado eu devo o meu saber e minha ignorância, as minhas necessidades, as minhas relações, a minha cultura e o meu corpo. Que espaço o meu passado deixa para a minha liberdade hoje? Não sou escrava dele.
O que eu sempre quis foi comunicar da maneira mais direta o sabor da minha vida. Unicamente, o sabor da minha vida.
Acho que eu consegui fazê-lo. Vivi num mundo de homens guardando em mim o melhor da minha feminilidade. Não desejei nem desejo nada mais do que viver sem tempos mortos.

Simone de Beauvoir

sábado, 16 de janeiro de 2016

Pedaços!

Primeira canção em solo gaúcho.

Pedaços!
Composição: tony quintino

A cada dia eu busco paz
A cada dia um sonho traz
A cada dia eu morro mais
Eu sei

Você bem sabe que eu tentei
Você bem sabe o que eu te dei
Você bem sabe que eu te amei
Te amei

Hoje eu queria lembrar
Hoje o que eu fiz foi sangrar
Hoje eu pedi pra deixar
Pra deixar correr
Pra me deixar viver

Ouça, eu fiz pra te dar
Como prever o fim?
Como se despedir?

Moça, eu quis te guardar
Fica uma cicatriz
Nosso final feliz

Morena dos sonhos meus
Esse é o meu último adeus

tq